A história de Joana é uma abordagem sobre a anistia pós-ditatorial na América Latina; momento mais do que adequado para a exibição do filme.
Joana (Jeanne Boudier) é uma jovem franco-brasileira, que foi criada na França após o seu pai (Jesuíta Barbosa) ter sido capturado durante a ditadura militar no Brasil. Ela vive exilada com sua mãe (Sara Antunes), seu padrasto (Julian Marras) e seus irmãos mais novos.

O filme é desenvolvido em duas linguagens diferentes, o que se demonstra importante para a desenvoltura das personagens, visto que os irmãos de Joana são, essencialmente, estrangeiros. Um deles, filho de sua mãe com o padrasto, cresceu na França, tendo dificuldades com o idioma nativo da família, enquanto o outro, filho apenas do padrasto, é também latino.
A grande questão que envolve a trama é a da protagonista, Joana, descobrir onde está seu pai, que foi levado como prisioneiro político. Ao longo da obra, Joana tenta agrupar diversas pistas sobre o paradeiro de seu pai através de sua mãe e, até mesmo, de sua avó (Eliani Giardini) — que só conhece quando chega ao Brasil.

Quem assina a direção é Flávia Castro em sua estreia no gênero. As suas escolhas tornam o filme visualmente familiar para os admiradores de cinema brasileiro e francês. As características são consolidadas na fotografia. Cores mais esverdeadas ou avermelhadas dominam as telas, especialmente nas cenas que se passam na França, enquanto as cenas no Brasil mostram a natureza e os tipos de instalações e construções tipicamente brasileiros. O público consegue sentir a brisa das praias, florestas e riachos em seus rostos. É uma noção de enquadramento vívida.
A trilha sonora é acompanhada de grandes mestres da música, como Lou Reed e Caetano Veloso. Cenas extremamente importantes para a demarcação de desenvolvimento da protagonista são interpretadas através destas canções que verbalizam o filme.

Há uma excelente ligação entre as relações familiares e políticas durante a discussão da narrativa. O roteiro é ajustado de forma excelente para que todas as personagens possam se conectar de forma natural e fluida. Uma das ligações mais bem construídas é entre Joana e sua avó, sendo o pai sempre o elo destas novas conexões.
A co-produção de Walter Salles auxilia não apenas no peso do filme, mas também em sua desenvoltura estonteante. Assim, Deslembro (2018) é um longa de ficção que retrata a crueldade ditatorial e a importância da Lei da Anistia assinada em 1979, não apenas servindo dentro do Brasil como em uma totalidade da América Latina.