Apesar do papel do som na sétima arte não ter mudado em essência, as guinadas tecnológicas e as necessidades do mercado foram traçando um caminho bem definido para o seu significado.
Desde o início do seu legado, os filmes ganharam diálogos falados e trilhas sonoras, os musicais apareceram, a ficção científica, ação, suspense. Em todos eles, o som foi ganhando uma característica condicente para cada gênero. Um filme de ação, certamente, terá sons agressivos e altos, tiros, freadas bruscas, graves fortes ao explodir de bombas. Um romance não terá nada disso: os diálogos são mais tranquilos, os sons são mais naturais, as trilhas são mais melancólicas ou felizes de acordo com as cenas.
Com esse leque enorme de possibilidades, o áudio cinematográfico vai se definindo e permitindo recursos específicos para cada filme. Mas o que mudou de lá pra cá?
Como vimos na primeira parte, Walt Disney implementou um sistema de som para seu filme Fantasia (1940), que acabou não conseguindo o sucesso pelo seu alto custo. Mas, em 1975, o sistema Dolby Stereo voltava com tudo. Era um sistema mais barato que acabou se tornando um padrão nas salas de cinema e uma solução para o que sempre foi o desafio dos cineastas: trazer imersão para o espectador, aguçar os sentidos que transformam a experiência de ver um filme em algo único. Processos que requerem profissionais qualificados que, além de possuírem conhecimento técnico altíssimo, precisam ter uma visão artística capaz de imprimir ao som a visão do diretor.

O operador de som direto, por exemplo, é responsável pela captação do áudio em cena e tem a árdua tarefa de conseguir gravar os diálogos dos atores com o mínimo de interferências possíveis (barulhos no set de filmagem, vento, movimentos bruscos dos atores, etc). O engenheiro de som, na pós-produção, fica a cargo de “limpar” a captação feita pelo operador, retirando os barulhos que foram impossíveis de serem driblados na captação dos diálogos. Em muitos casos e com a quantidade de filmes de ação que contém barulhos muito altos de carros, maquinarias e explosões, os diálogos são regravados em estúdio num processo chamado ADR (automated dialogue replacement), onde os atores, tal qual como feito nas animações, dublam sua própria voz.

Uma outra figura importante é o responsável pelo foley, que consiste em incluir efeitos para enfatizar movimentos ou até mesmo melhorar sons que são naturais na cena. Por exemplo, alguém abre uma porta e bate com força ao sair, isso pode não ficar bem representado pela captação do som no dia da filmagem, então os responsáveis pelo foley (ou sonoplastia), recriam esse som em estúdio, para que o som da porta aconteça de uma forma mais consistente. Em alguns casos, a sonoplastia se faz valer de efeitos que não são exatamente naturais para criar impactos e sensações diferentes, para isso a criatividade e a experiência do sonoplasta, ajuda muito no processo.
Aliado a essa extensa gama de possibilidades, existem as bibliotecas de áudios pré-gravados, muito úteis para filmes de baixo orçamento. Esse banco de dados gigante é uma solução que não só diminui drasticamente o orçamento, como também agiliza o processo da pós-produção.
Mas a era digital, tanto no som quanto na imagem, traz um questionamento que não é tão evidente e é muito levantado pelos profissionais mais experientes: todas essas facilidades tecnológicas estão nos deixando mais preguiçosos? Estaríamos perdendo a magia em criar soluções mais criativas? No entanto, é certo que esses atalhos têm tornado possível o cinema independente de baixo custo e que mais pessoas tenham acesso a ele. A diversidade sempre será a solução para que novas conquistas, novas narrativas sejam sempre a verdadeira expressão artística independente de quais ferramentas estejam em aberto.