Análise | K-Pax: O Caminho da Luz

Uma narrativa eletrizante banhada pelas profundas águas dos comportamentos correspondentes da Esquizofrenia.

K-Pax: O Caminho da Luz (2001) foi uma produção norte-americana dirigida por Iain Softley, responsável também pela direção de A Chave Mestra (2005). A obra de Softley possui uma narrativa banhada em características típicas de um roteiro que traz a psicopatologia como tema central; no caso, o transtorno abordado é o mais complexo e completo de todos, a Esquizofrenia.

Prot (Kevin Spacey) chega a um hospital psiquiátrico alegando que veio de um planeta chamado K-Pax e, por conta dessa verbalização, o internam no local. A personagem de Spacey acaba, de uma certa maneira, trazendo mudanças nos quadros de vários pacientes e, principalmente, trazendo mudanças na forma de agir e pensar do seu psiquiatra, Mark Powell (Jeff Bridges).

Ao ser internado, já é dado a ele um anti-psicótico e é exatamente nesse momento que a primeira análise referente à construção narrativa da personagem, junto a dados comprovados a respeito de um dos principais transtornos psicóticos, vem à tona: a medicação aumenta os delírios do paciente, ao ponto dele continuar achando que veio de outro planeta. Pesquisas psiquiátricas a respeito de anti-psicóticos já trouxeram a conclusão de que alguns fármacos potencializam os delírios e alucinações, como acontece no filme.

Geralmente, o sujeito com Esquizofrenia apresenta um discurso desorganizado, mas o discurso de Prot não se estrutura dessa maneira. A sua fala tem um verbalização sustentada e, assim, o telespectador chega a acreditar que ele realmente é um alienígena, tanto através de suas falas a respeito da vida em K-Pax quanto na cena onde ele mostra as coordenadas específicas do seu planeta para um grupo de astrônomos. Esta construção narrativa veio mostrar um fato importantíssimo na construção literária do personagem de Kevin, visto que os delírios se apresentam de forma sistemática. Nós podemos nos referir a este fenômeno justamente como delírio sistemático. Provando que ele conseguiu criar uma base de sustentação no seu discurso, as suas falas fazem sentido e não se apresentam desconexas, as quais, na mais profunda verbalização, não fazem sentido algum.

Prot conseguiu agregar fenômenos e questões de sua vida como Robert Poter e trazê-los para o seu novo mundo. Por exemplo, Poter trabalhava em um frigorífico e, na sua nova realidade fantasiosa, ele não alimenta-se de carne. Entende-se, aqui, que a sua fala se sustenta exatamente por conta desta agregação. Seu delírio torna-se sistemático pois os elementos de sua vida “passada” conseguem trazer a base de sustentação ao seu discurso.

[ALERTA DE SPOILER]

No dia 27 de julho, cinco anos antes do que está sendo abordado na obra, Robert Poter chega em casa e vê o corpo de sua filha jogado no chão, todo ensanguentado, e o corpo de sua mulher jogado em outro canto do quarto. Esta data e esses dois assassinatos brutais também constroem toda a narrativa da personagem, como podemos ver quando Prot verbaliza a quem quer que seja que ele voltará para K-Pax no dia 27 de Julho às 17h – exatamente o dia e a hora na qual Poter chega em casa e vê os corpos da mulher e da filha. Percebe-se, então, que o seu delírio está constantemente relacionado a este evento, mesmo que ele enxergue esse fato como sendo parte da história de vida de um amigo terráqueo e não da sua. Essencialmente, Robert Poter morreu naquele traumático 27 de julho.

K-Pax: O Caminho da Luz banha-se de uma narrativa eletrizante capaz de prender o telespectador de uma forma incrível. A obra captura o seu olhar do início ao fim, provando, assim, ser uma obra de cunho magnífico e que merece ser apreciada por sua construção de magnitude.

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