É de se pensar a simbologia dos filmes quando eles remetem diferentes tempos, futuros ou passados distantes, refletindo questões atuais. É uma forma de universalizar os conflitos inerentes ao ser. Talvez exista essa romantização, claro, por isso a simbologia, mas será que o individuo sempre é o mesmo independente da sua época?
Theodore é um homem solitário, recuperando suas perspectivas e seu lugar na própria história. Como antítese ao seu momento, a época em que ele vive se recria como um antagonista. Por quê?

A resposta está nos detalhes. O ofício de Theodore nos chama para a intimidade de alguém que escreve cartas envolvendo histórias que não são dele; o apartamento tem essa vista distante da cidade ao mesmo tempo que o contempla constantemente; a sua vizinha, apesar de ser sua amiga, se encontra na mesma redoma invisível e solitária. Tudo no filme parece distante e o meio acaba se tornando uma rede que prende a personagem onde não parece fazer questão de sair.
A revolução tecnológica acentuou a solidão ou ela só destacou aquilo que antes era vedado por um sem fim de vínculos vazios? Talvez o que o mundo recente e novo da web implique é ter trazido uma alternativa, uma válvula de escape para os momentos em que não temos vontade de interagir com aquilo que nos confronta o tempo todo. Então o próprio environment funciona como o arremessador do indivíduo para o mundo virtual, que em si, traz uma falsa premissa de que podemos começar do zero à nossa vontade. É o que o filme coloca como o novo sistema operacional que chama Theodore para embarcar numa delicada busca de si mesmo dentro de um gigante mundo de novas possibilidades que vão se construindo à medida que ele o alimenta. É um dos detalhes importantes na jornada de Theodore. O sistema aprende com a experiência e expectativa de sua vida, assim vai se definindo a relação entre os dois que acaba, inevitavelmente, caindo no clichê do romance.

Mas eis que a não existência física do seu amor acaba se tornando um paradigma: não podemos nos retirar da equação. A visão de ter o outro como vilão da nossa jornada acaba apagando o rasto da nossa interferência nas relações. Se nos abstemos do protagonismo não nos resta outra coisa a não ser vagar por um mundo inoxidável e virtual. É disso que consiste a ideia de Samantha. O sistema operacional que simboliza a idealização de uma relação bem sucedida, que não existe fisicamente e, em muitos momentos, é algo muito maior que o humano. Seria novamente o coadjuvantismo de Theodore plantando uma armadilha? Uma das cenas emblemáticas é o momento em que Samantha parece offline. É o momento em que Theodore se dá conta de que mesmo nesse mundo de situações perfeitas, o controle é algo que nunca se tem por completo. Na sua última reflexão, na carta que escreve para sua ex, temos o final do seu arco. Ele se reencontra ao tomar a história para si e assumir que, para viver a vida, precisa ser de carne e osso, conviver com o próprio eu assumindo seus empecilhos e seus acertos. O que temos sido desde o início dos tempos.