Cheia de temas sérios e necessários, a nova produção nacional da Netflix conseguiu esboçar um caminho de sucesso.
Coisa Mais Linda explora o vívido ar de bossa nova do Rio de Janeiro dos anos 50, sendo explorado por uma paulista novata na cidade e sem nada a perder – como parece a todo momento, a despeito da criança que a espera em São Paulo (proponho um drinking game: um shot toda vez que você se lembrar que ela é mãe).
Apesar de alguns buracos na narrativa e de seguir a tendência nas séries nacionais que desenvolver diálogos pouco naturais – aqui principalmente no que se referem às frases de efeito de Maria Luiza (Maria Casadevall) -, os sete episódios da produção são envolventes e pedem por uma continuação. A música é boa, os figurinos são adoráveis e os temas desenvolvidos são o grande elo que compensa as falhas dentro da obra: gênero, racismo, classe, sororidade e violência doméstica são alguns desses.
[ALERTA DE SPOILER]
Quanto a isso, é comum que séries tenham uma temporada de estreia satisfatória mas que, de uma forma geral, não seja tão “organizada” quanto se gostaria – algumas críticas não levam isso em consideração e, de uma forma geral, acabam desconsiderando o próprio processo dessa área do cinema, que tende a ser diferente daqueles dos longas. O que não entra nesse mérito, entretanto, é a falta de cuidado que a produção teve com a exibição de cenas fortes, as quais podem servir como triggers para sua audiência e foram usadas sem nenhum tipo de aviso – e não é a primeira vez que o streaming faz isso.
Talvez pela sua “loucura” um pouco desconectada do real, Casadevall acaba sendo o link mais fraco dentre o elenco feminino da série. Apesar da estória girar ao redor da sua personalidade forte e admirável, as outras mulheres tendem a ser muito mais palpáveis e relacionáveis em seus dia-a-dias. Ela certamente lembra o jeito extrovertido de uma Maravilhosa Sra Maisel, mas não chegou exatamente lá.
O que, por sinal, é um grande alívio, visto que as figuras masculinas não trazem grande contribuição à tela – em especial o par romântico de Malu, que, como ela, acaba sendo exageradamente caricaturado e dramático por mais de metade da narrativa. Talvez essa falta doa a alguns, mas não me escapa que tenha sido proposital: o foco aqui – toma essa! – é nas MULHERES.
A fotografia, em grande parte da obra, privilegia mais o resultado estético do que a fidelidade da ambientação, o que nem sempre tem um efeito positivo. Isso conta tanto para o cenário quanto para o figurino, o que pode decepcionar um olhar mais atento e familiar aos anos 50. Além disso, o primeiro episódio insistiu numa áurea muito etérea, o que tornou estouradas diversas cenas – entretanto, esse traço pareceu ser corrigido nos demais episódios. O resultado geral, não obstante essas observações, conseguiu criar cenas memoráveis e, mais importante, simbólicas para o momento em que se encaixam.
Coisa Mais Linda é uma ótima aposta para quem gosta de minisséries e música. Ela diverte, surpreende e, mais importante, tem uma mensagem a passar por trás de toda essas aventuras.