A narrativa de Precisamos Falar Sobre o Kevin abordou a psicose de uma maneira diferente da abordagem do clássico de 1960, dirigido por Alfred Hitchcock.
Precisamos Falar sobre o Kevin é um terror psicológico dirigido por Lynne Ramsey, responsável pela direção de Você Nunca Esteve Realmente Aqui (2017). A linha narrativa do filme trouxe uma importante reflexão sobre a legalização do aborto e sobre um elemento da teoria freudiana, muito abordado em filmes do gênero: a Psicose.
Para explicar o desenvolvimento psicossexual, Freud separou as idades de acordo com as fases de desenvolvimento, conhecidas como: Fase oral; Fase Anal; Fase Fálica; Fase Latente e Genital. Cada uma destas carregam consigo as suas determinadas estruturas clínicas – Psicose, Perversão e Neurose – e psíquicas – Id, Ego e Superego.
Quando falamos sobre a fase oral, o primeiro estágio de desenvolvimento, precisamos esclarecer que a estrutura psíquica e clínicas desta, respectivamente, referem-se ao Id e a Psicose. Ou seja, ao analisarmos a personagem Kevin (Erza Miller), é necessário compreendermos que ele encontra-se estagnado psiquicamente no primeiro estágio: ele ainda vê e compreende o mundo através do olhar da mãe. Chamaremos este evento de fase fusional. Além disso, ele não consegue perceber e nem se diferenciar do outro.
É muito comum percebemos todos estes elementos em quaisquer filmes que abordem a Psicose, como, por exemplo, Psicose (1960) e Cisne Negro (2010). Porém, cada um explora a teoria de formas diferentes, que vão de acordo com a roteiro. Na produção de Ramsey, o foco não é apenas mostrar a relação existente entre Kevin e Eva Khatchadourian (Tilda Swinton), e sim abordar as consequências subsequentes a esta relação.
A personagem de Tilda Swinton nunca quis ter filhos e, ao se ver grávida de uma criança não desejada, já percebe-se uma rejeição, a qual não termina com o nascimento do seu primogênito. Ela nunca gostou da criança e disfarçava isto através de um mecanismo de defesa do ego conhecido como Formação Reativa, no qual o sujeito apresenta comportamentos ou demonstra sentimentos contrários aqueles que ele realmente está sentindo. Eva não gostava de Kevin, mas o seu ego, através da Formação Reativa, disfarçava este sentimento através de uma preocupação ou falso amor.
Ao analisarmos a personagem de Miller, percebemos, também, as consequências desta relação entre mãe e filho, principalmente pelo adolescente estar parado no estágio oral. Para Freud, o primeiro objeto de amor da criança é a mãe. Ou seja, até a fase anal, na qual o pai é apenas um coadjuvante, que só terá um papel de destaque na triangulação edipiana presente na Fase Fálica. Por mais que o pai de Kevin seja o único a dar amor, proteção e legitimação ao filho, ele não consegue formar um afeto por este pai por não conseguir perceber que o outro existe.
Precisamos Falar Sobre o Kevin possui um elo gigantesco com as teorias da psicanálise, servindo de base, até hoje, para importantes estudos sobre a psicose. Além disto, a sua linha narrativa trouxe um importante reflexão sobre o porquê a legalização do aborto é importante.