Crítica | Sex Education

Sex Education é um relato divertido e sem tabu sobre as (in)experiências sexuais, desde à puberdade até a fase adulta.

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A Netflix tem acertado com clamor quando o assunto é adolescência. Crises existenciais e de identidade, drogas, alcoolismo, doenças mentais, tudo vem sido discutido nas últimas produções Originais com o público-alvo jovem. Apesar disso, a maneira assertiva em tratar dos temas atrai também adultos, pois nós já conhecemos a fórmula mágica Netflix, e não é de hoje.

Desta vez, temos o convite à uma terapia de grupo televisiva, incitando debates e reflexões não somente acerca dos casos de cada personagem, mas também os casos da vida real. É fácil lembrar-se de alguém que passou por isso ou por aquilo e essa associação é o que causa maior empatia.

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As histórias que Nunn decidiu contar são críveis e apontam as dificuldades vivenciadas por adolescentes e adultos ao conversar assuntos íntimos. A trama denuncia a consequente problemática que muitas vezes transforma-se em riscos à saúde física e mental resultantes da crescente desinformação sobre o assunto.

Colocar um protagonista especialista em algo nunca testado antes por ele mesmo é importante para sua neutralidade dentro da história, utilizando-se do pensamento analítico e experimentando uma autoanálise fundamental para que sua redenção seja bem sucedida no final do ciclo.

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Embora a direção seja um pouco questionável, levando em conta que tudo é mostrado a olho nu (literalmente), a conexão estabelecida entre espectador e personagem é o suficiente para contagiar até os mais sensíveis.

Cada uma dessas figuras convence à sua maneira, revelando a escolha perfeita de elenco para representar a diversidade de etnias, comportamento, gênero e orientação romântica-sexual. Essa escolha contribuiu para a ambientação colorida das cenas e, principalmente, para mostrar o mundo como ele é: diverso e completo em suas múltiplas formas.

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O choque vem pela decisão de Laurie Nunn, criadora da série, em arrancar os véus do conservadorismo logo no primeiro episódio, nas primeiras cenas. O terreno não é preparado. Somos pegos de surpresa o tempo inteiro. Não pelo conteúdo, mas pela maneira como vemos isso na tela.

Essa abordagem naturalista¹ funciona como o cérebro de Otis (Asa Butterfield). Os eventos acontecem objetivamente, com rapidez, sem filtros, sem eufemismos. Essa é a maneira que Otis enxerga o mundo e que Nunn gostaria que enxergássemos.

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Os simbolismos estão presentes todo o tempo, e o bom observador vai reparar que Otis tem o costume de abraçar a si mesmo, de esconder a genitália, como se estivesse em constante exposição.

É notável que a direção se preocupou em utilizar-se destes simbolismos para descrever as personagens; como na cena em que Otis e sua mãe (Gillian Anderson) conversam sobre sexualidade e até mesmo ela abraça os seios, compartilhando da insegurança em tratar do assunto. É um ponto curioso, pois grande parte do que se passa com Otis é fruto de sua experiência sendo filho de uma terapeuta sexual.

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A presença de Jean – mãe de Otis – em boa parte da temporada ilustra aquele famoso ditado que diz que santo de casa não faz milagre. Excelente em resolver questões de milhares de pessoas, mas não o bastante para fazer o mesmo consigo e com seus familiares.

Trazê-la para dividir o protagonismo com Otis mostra os dois lados de uma mesma moeda. Além de reforçar o papel que ele tem na vida de seus amigos, que passam por situações semelhantes, apesar dos diferentes contextos; família é família, adolescência é adolescência. O discurso é universal o bastante para que sirva de espelho para os próprios espectadores da série.

Sex Education já está disponível na Netflix desde 11 de janeiro. Confira o trailer:

 

¹Nota de rodapé: Naturalismo é a corrente literária com foco na realidade nua e crua.

 

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