O terror psicológico de 1995 apresenta-se a partir de uma perspectiva mais realista a respeito do Transtorno de Personalidade Antissocial.
Seven – Os Sete Crimes Capitais (1995) é um terror psicológico dirigido por David Flincher, responsável também pela direção de O Clube da Luta (1999), e tem a sua narrativa construída através de vários comportamentos correspondentes ao Transtorno de Personalidade Antissocial, antes conhecido como “sociopatia”. A produção de Flincher não foi a primeira e nem será a última a falar sobre o tema; porém, é necessário afirmarmos que Seven diferencia-se de muitas obras do gênero.
John Doe (Kevin Spacey) foi um dos mais importantes serial killers da história do cinema mundial, principalmente pela linha narrativa da personagem não se limitar aos assassinatos macabros. Ao analisarmos Doe, percebemos que ele possui comportamentos que se encaixam, com maestria, dentro dos quadros dos Transtornos de Personalidade – que não são vistas como doenças psicopatológicas e sim como anomalias presentes no desenvolvimento psíquico. Ou seja, John apresenta uma perturbação consistente e persistente no seu desenvolvimento mental. A forma através da qual ele enxerga o mundo difere-se essencialmente da forma como um sujeito que não apresenta sinais de nenhum dos vários transtornos psiquiátricos que acometem os níveis da personalidade vê o mesmo.
A personagem de Spacey apresenta comportamentos semelhantes aos descritos no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM V a respeito do Transtorno de Personalidade Antissocial. Não apenas por John ser um serial killer, mas também pelas vias de todo o processo presente na narrativa da obra, como, por exemplo, o fato de que ele consegue estabelecer as linhas do jogo psicológico, situação que não esteve presente nem em O Silêncio dos Inocentes (1990). Brincando com o psicológico dos detetives David Mills (Brad Pitt) e William Somerset (Morgan Freeman), John Doe consegue estabelecer a ponte necessária de dominação psicológica, o que todo antissocial realiza com maestria. Ele não consegue apenas manipular a situação, mas também afetar os dois detetives que estão atuando no caso, assim como se mantém no poder o tempo todo.
Os sete assassinatos estão interligados não apenas por corresponderem a algum pecado capital; os crimes interligam-se através do modus operandi estabelecido pelo serial killer, ou seja, o ritual e a assinatura deixada por ele. O modus operandi é o modo como o assassino em série age, ou seja, o seu modo de operação. Nos pecados da gula e da cobiça, por exemplo, os assassinatos acontecem de formas diferentes, enquanto um é obrigado a comer até a morte, o outro foi brutalmente torturado e obrigado a escrever a palavra cobiça com o seu próprio sangue. Apesar da forma ser diferente, o modus operandi é o mesmo: as vítimas são torturadas através das vias do seu pecado capital.
A segunda linha que interliga os crimes corresponde ao ritual estabelecido por ele. Estes são os comportamentos necessários para a execução do assassinado e o ritual possui relações bem estabelecidas com as necessidades psicossexuais do killer. Apesar da produção de Flincher não mostrar muito a questão das fantasias sexuais, elas estão presentes de forma implícita, pois é a partir da junção das três que um serial killer é reconhecido.
A terceira linha corresponde à assinatura, uma série de combinação de comportamentos que são identificados através do modus operandi e do ritual. Nela o assassino se expõe a altos ricos em prol de satisfazer todos os seus desejos. Em relação a Doe, a sua assinatura configura-se de duas maneiras: quando ele escreve o nome do pecado capital no local do crime – ou até mesmo na própria vítima – e quando ele liga para Mills e Somerset. Esse ato ocorre pelas vias de corresponder os desejos de John em realizar jogos psicológicos com os dois detetives do seu caso.
Seven – Os Sete Crimes Capitais foi um recurso utilizado por muitos pesquisadores, principalmente pela narrativa da obra mostrar o sociopata como além da linha dos assassinatos brutais e macabros. O filme possui, assim, uma força motriz dentro de produções que falam a respeito da sociopatia.
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