Análise | A Psicose de Norman Bates

O clássico psicanalítico dos anos 60 acabou tornando-se um dos maiores ícones cinematográficos do terror psicológico.

Psicose (1960) é um terror psicológico dirigido por Alfred Hitchcock, responsável também pela direção de Janela Indiscreta (1954). Hitchcock tinha um conhecimento exemplar a respeito da Psicanálise, o que acabou tornando a obra de 1960 um rico acervo de estudo a respeito do tema.

Norma Bates (Anthony Perkins) é um morador de uma pacata cidade nos Estados Unidos e, desde o momento em que ele aparece em cena, a impressão que temos é de um rapaz tímido e reservado. No entanto, conforme entramos no mar da produção de Hitchcock, percebemos que os traços psicológicos da personagem são muito mais profundos e sombrios do que imaginávamos.

Bates é um psicótico; por ter tido a sua linha narrativa construída através da teoria da psicose, uma das estruturas clínicas de Freud, a personagem não tem nenhuma noção de realidade ou da existência do outro. Isso significa que o rapaz só possui o id, o que decorreu do fato dele ter parado na primeira fase de desenvolvimento psicossexual, a Fase Oral. Assim, Norman Bates vive uma relação fusional com Norma Bates – exatamente por não ter passado pelas outras -, ou seja, ele e a mãe são a mesma pessoa. Uma relação de fusão entre a mãe e a criança é uma das principais características da Fase Oral, pois a genitora é o primeiro objeto de amor do bebê. E este seria o x da questão: a criança, nesse momento, não desenvolve o ego, pois ela vê o mundo a partir da maneira como a genitora o percebe.

Norman Bates não conseguiu cortar essa relação de fusão e ter proporcionado o desenvolvimento do seu ego; portanto, ele continua enxergando o mundo ao qual vivia a partir da mãe. Mesmo que tenha passado pela Fase Anal, a segunda fase, o homem não conseguiu levar nada desta com ele. É importante ressaltar que Bates não é apaixonado pela Sra. Bates nem sente algum afeto por ela, porque uma pessoa só é capaz de sentir qualquer afeição por outra a partir do momento em que a reconhece como sendo diferente de si; por isso, a personagem de Perkins não sente nenhuma afetividade pela mulher que o deu a luz.

Pela sua estrutura clínica ser a psicose, Norman não percebe o mundo através do princípio de realidade, o que faz com que a sua percepção de mundo seja distorcida, através de delírios e alucinações. O psicótico acredita fielmente naquilo que está vendo. O serial killer, aqui, fala com convicção sobre o fato da mãe estar viva, mesmo que ela tenha sido assassinada por ele há 10 anos. Ou seja, Bates mostra através de suas ações a seriedade de suas palavras. O dono do Motel Bates esconde o corpo de Marion (Janet Leigh) por ter a certeza de que foi a mãe que assassinou a mulher no banheiro do motel.

Psycho-still

É claro que a relação fusional com a mãe não tem como explicação apenas o que diz respeito às fases de desenvolvimento psicossexual, mas também está presente nos delírios e alucinações. Norman Bates matou todas aquelas moças por conta desta relação, por ainda estar ligado fusionalmente à mulher que o criou. Quando sente que está tendo alguma atração por outra mulher, ele, teoricamente, a mata; no entanto, deve-se perceber que, na prática, não foi ele quem a matou, mas sim a mãe que vive dentro dele. Mesmo depois de morta, Norma Bates continua viva através da ligação de fusão entre ela e o seu filho.

Psicose é a melhor produção da filmografia de Alfred Hitchcock, pois é um terror psicológico que capta a nossa atenção do início ao fim, mostrando, assim, a razão dessa produção de 1960 ter uma gigantesca força até hoje.

2 comentários em “Análise | A Psicose de Norman Bates

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