Short Films | Whiplash

Whiplash: o longa que deu origem ao curta. Confuso? Bom, aqui a gente te explica como se deu a produção de ambos os filmes.

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Whiplash é uma história que já nasceu inteira. Quando Damien Chazelle finalizou o roteiro, ela já havia se tornado um longa-metragem. No entanto, como estratégia de publicidade, o até então roteirista iniciante estreou-se com a versão enxuta. Trocando em miúdos, Chazelle recortou a cena com mais impacto e carga dramática e lançou-a como curta-metragem, quando, na realidade, tratava-se de um trecho solto de um longa que já estava pronto.

Se colocarmos as duas versões (do longa e do curta) juntas, lado a lado, é evidente que se trata da mesmíssima cena. Os planos de filmagem são os mesmos, a disposição dos elementos, o diálogo, a iluminação.

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De diferente, somente o elenco – exceto o professor, que é o mesmo – e a paleta de cores que transformou-se num sépia claustrofóbico e angustiante, assim como as próprias aulas do professor Terrence Fletcher o são, desde o princípio. No entanto, a paleta sem filtros do curta deixou o filme mais natural, mais confortável, aproximando o espectador daquela realidade, como se fosse uma classe pertencente a qualquer lugar que já tivemos uma experiência semelhante.

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A cena, enquanto recorte, funciona bem sozinha. Possui início, meio e fim. Ali entendemos que existe um novo aluno na classe de música, que precisa ser iniciado por um professor carrasco (J.K. Simmons), que não tolera fracassos. Sua turma é formada por vencedores que sabem que são vencedores.

Para ele, não basta talento, mas a consciência e a segurança para identificar quando se acerta, quando se erra, quando não se sabe. A dificuldade em identificar as três possibilidades é, aos olhos do professor, muito pior do que o fracasso musical. Pois, quando se identifica, há espaço para crescimento e aprimoramento. Do contrário, o aluno estagna.

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Mesmo em apenas dezoito minutos, Terrence Fletcher, o professor-maestro, se apresenta como uma personagem tridimensional, humana, real, cinzenta. E mais do que isso: o professor traz esses ensinamentos de maneira simples o bastante para o mais burro da classe compreender. Na prática, na pele, sem espaço para dúvidas.

Ao procurar na orquestra o aluno desafinado, ele percebe a insegurança de um deles. Terrence o questiona: “É você? É você que desafina?”. Apavorado, o aluno responde: “Sou eu”. Nesse momento, o professor o expulsa da classe e tranquiliza o verdadeiro aluno desafinado, pedindo-o para que estude mais.

A partir daqui, conhecemos seu lado doce. O lado em que ele se preocupa com seus alunos. Pouco depois, no corredor, o professor conversa com Andrew (Johnny Simmons), o novato. Pergunta-lhe sobre seus pais, se há músicos na família. Tenta acalmá-lo, depois daquela cena assustadora demais para quem não está acostumado com a Indústria da Música.

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Uma vez quebrado o gelo, eles retornam. É a vez de Andrew ser testado. E, com toda a paciência do mundo, Terrence pede para que ele recomece a introdução de novo e de novo até acertar. O professor deixa que o aluno experimente um pouco a sensação de não ser interrompido.

Até uma cadeira ser arremessada em sua direção, seguida pelo questionamento: “Você sabe por que arremessei essa cadeira em você?”. O aluno não sabe dizer.  “Sim, você sabe”, o professor é categórico, questionando-o várias e várias vezes, “Você está acelerando ou prolongando?”; “rápido ou devagar?”. A pressão e a repetição acionam a ansiedade do aluno. “Eu não sei”, ele insiste em responder.

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Terrence tenta outra tática. Tenta fazê-lo perceber que ele sabe a diferença sim entre rápido e devagar, mas o nervosismo está atrapalhando. Quando o aluno identifica a diferença, o professor torna a questioná-lo: “Se você sabe a diferença, então me diga: você está acelerando ou prologando?”. “Acelerando”, ele responde.

Nesse momento, Terrence introduz o clímax da história. Inicia uma série de críticas destrutivas ao aluno, questionando seus talentos para participar da classe dele. Ao notar que o garoto está desestabilizado, obriga-o a externalizar, verbalizar, não ter medo de admitir ao mundo o que o aborrece; a não ter vergonha de sentir-se frágil e magoado.

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E após os sucessivos gritos de “Eu estou chateado”, o professor ordena que outro aluno tome a posição dele na bateria, para que Andrew descanse. E assim o curta finaliza como se voltasse à normalidade, quando o maestro comunica à sua banda: “Vamos tocar Whiplash de novo”.

Notem que esta é uma cena em que muito acontece e muito é aprofundado, mesmo sem o conhecimento prévio das personagens ou de uma trama principal. Em dezoito minutos, tomamos uma aula sobre filosofia, educação e moral. Quase uma terapia de choque, em grupo. Por incrível que pareça, essa cena, desgarrada das demais, engrandeceu-se de tamanha maneira que valeria pelo longa-inteiro.

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