Os primeiros filmes foram, sobretudo, experimentais. Porém, a partir do momento em que o cinema começa a tornar-se lucrativo, partimos de um viés puramente ilustrativo para uma potência econômica e uma arma política.

A partir do sucesso do cinema narrativo, que foi discutido em História do Cinema na última semana, visualiza-se um campo muito mais vasto e amplo em relação ao cinema, que começa a se tornar lucrativo demais para passar despercebido.
Bom, com as guerras assolando a Europa e as vanguardas europeias – que serão estudadas uma a uma mais à frente – tomando conta do pensamento popular, os Estados Unidos emerge como um grande salvador com a cultura de alienação, dando ao público filmes que divergiam das ondas políticas cinematográficas que rondavam países como França, Inglaterra e Itália.
Contrária a tudo o que esses movimentos cinematográficos pregavam – o caráter revolucionário e insatisfeito com o governo regente -, os filmes americanos emergem em todo o mundo como uma forma de “cegar” seu público e trazer um conforto narrativo com histórias de ficção que acabaram por conquistar o público mundial, tornando o cinema um objeto da comercialização. Até a Primeira Guerra Mundial, a Europa e, em especial, a França, possuíam o maior público do Cinema Mundial.
A primeira premiação do Oscar aconteceu em 1929. A Academia serviu não apenas para tornar o nacionalismo ainda mais concreto no público da época, mas também para iniciar o Star System, ou “Sistema das Estrelas”.
Foi no ano de 1915 que os estúdios começaram a se formar nas colinas de Hollywood. Até então, o local ainda não havia sido popularizado como um espaço de produção cinematográfica e nem mesmo um ponto de atração para grandes astros do rock ou do cinema.
O Star System era responsável, especialmente, pela venda da imagem dos artistas. O trabalho de relações públicas começa, desde então, a ser elevado a um nível midiático. É preciso analisar a carreira do ator ou atriz e, então, ver como estes se apresentam para o público. Se é necessária uma imagem mais sexualizada, como a que construíram acerca de Marilyn Monroe, é preciso encaixá-la em filmes que tragam esse estereótipo do ideal de beleza e comportamento americano (uma mulher loira, interesseira e que não pense por si só). A própria Marilyn disse em seus diários e entrevistas sobre o quanto se frustrava com a falta de papéis que a desafiassem, como se sentia um pedaço de carne e uma atriz medíocre, chegando a largar o cinema para focar em melhorar seu trabalho no teatro durante algum tempo.
O fato é: esse sistema fez com que os filmes não fossem mais procurados e sim os atores. A partir do momento em que o público estava familiarizado e conquistado por uma estrela, esta seria a grande moeda que os comerciantes de cinema precisavam para fazer Hollywood crescer.

Hollywood tratou de tornar-se imediatamente uma potência própria. Vendia o erotismo, o romance e a aventura que o público tanto procurava em seu dia a dia na medida certa, acrescendo a sua popularização e a obsessão dos espectadores pelos artistas.
Ao visitar Moscou, juntamente com seu marido, Mary Pickford foi recebida por um público que incluía mais de 300 mil pessoas. Ela se tornou a mulher mais bem paga das colinas de Hollywood de sua época, recebendo cerca de 300 mil dólares por ano. O homem mais bem pago viria a ser Charles Chaplin, com 526 mil arrecadados por ano.
Uma nova máquina de fazer dinheiro estava se tornando popular: o ser humano em si, sua imagem como instrumento de arrecadação.

Essa necessidade de vender os artistas fez com que os planos primários fossem cada vez mais utilizados no cinema americano. Os close-ups, Primeiros Planos e Planos Médios tornaram-se ainda mais comuns. Criou-se então o que ficou conhecido como Plano Americano (PA), que incluía a corporação de seus personagens em cena desde os joelhos até a cabeça.
A Guerra das Patentes (1897-1908) é como ficou conhecida a corrida pelo comércio no cinema, após Edison aproveitar-se de sua invenção para obrigar quem utilizasse pequenos recursos, que foram inicialmente trabalhados em sua câmera, a pagar pelos direitos autorais de uso da máquina. Inúmeros cineastas recusaram-se a dar dinheiro para Edison, o que formalizou a MPPC, ou Motion Pictures Patents Company, que buscava deixar os produtores independentes de fora das produções, especialmente os judeus comerciantes que ascendiam no cinema lucrativo.
Essa perseguição fez com que as empresas independentes migrassem para Los Angeles, onde começaram a formar os primeiros estúdios e tornar a cidade dos anjos um centro comercial, que viria a atrair tanto estrelas quanto produtores – e até mesmo o próprio público – pelo seus baixos custos.
Caerl Laemme, um dos homens perseguidos pela MPPC, levou o caso aos tribunais e venceu, começando uma segunda guerra que viria a ser conhecida como “Guerra do Truste”. Em 1918, a MPPC foi oficialmente tida como monopólio ilegal.

O cinema hollywoodiano não era utilizado apenas como uma moeda de troca, mas também acabou por virar uma arma política, que contrariava o que as vanguardas europeias buscavam, como dito previamente. Esse cinema, por sua vez, visava estabelecer uma relação de patriotismo imenso e não apenas detê-la para o público americano, como também espalhá-la para todo o mundo.
Desde 1915 até os dias atuais, Hollywood é a maior potência cinematográfica da história. Produções como 2001 – Uma Odisséia no Espaço (1968, EUA) e Solaris (1972, URSS), ambos com o mesmo tema, mas abordagens completamente diferentes, foram representantes de seus respectivos países em películas sobre outros planetas, naves e viagens para além da Terra durante o momento da Corrida Espacial, mostrando como o cinema possuiu grande influência sobre as competições políticas da época.
Referências Bibliográficas:
COUSINS, Mark. História do Cinema. Edimburgo, 2004.
HENNEBELLE, Guy. Os Cinemas Nacionais Contra Hollywood. São Paulo, 1978.
Um comentário em “História do Cinema #4 | Hollywood e o Cinema Comercial”