História do Cinema #2 | As primeiras técnicas cinematográficas

Dos curtas aos longa-metragens: o cinema finalmente ganha suas primeiras noções de montagem.

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No primeiro História do Cinema, foi introduzida a importância de George Albert Smith para a criação dos planos cinematográficos. Bom, partindo do viés de que o cinema, inicialmente, se tratava apenas de uma cena aleatória que não possuía uma narrativa comprida – ou, até mesmo, relevante –, notamos que a introdução de planos fez crescer a ideia da dinâmica câmera-espectador.

Além disso, foram esses planos que apresentaram posteriormente a montagem, ou seja, os cortes que são feitos entre os takes de um filme.

Para falar de técnica, é preciso, primeiramente, explicar como Smith renova o uso da câmera cinematográfica. Em Os Irmãos Corso (1898), como já foi dito anteriormente, ele utilizou algumas gambiarras para criar uma ilusão de cena, desde cobrir a lente com veludo preto até rebobinar o filme para sua exibição.

No mesmo ano, Smith lançou Phantom Ride, no qual criou dois planos que se combinavam; o primeiro era de um casal se beijando em um cenário que introduziu um formato que possibilitaria a mudança para o vagão de trem surgir através do pensado trabalho da arte. Nessa cena, usa-se o travelling, que, no cinema, nada mais é do que a forma como a câmera se desloca no espaço e dá ao seu espectador a sensação de movimento, como se o mesmo pudesse viajar pelo cenário. Ele ainda utiliza a primeira variação de foco, concebendo-a em seu filme Deixe-me Sonhar Outra vez (1900).

Um dos primeiros registros de plano-detalhe é visto em Grandma’s Reading Glasses (1900). Porém, o primeiro close-up que não envolvia uma ideia de leitura ou um personagem observando algo de perto veio também com Smith, em seu filme The Little Doctor (1901), que foi perdido e refeito dois anos depois.

Robert William Paul, criador da câmera que imitava a invenção do cinematógrafo dos Lumière e responsável pelo impulso que levou a Escola Brighton a suceder através da venda dos equipamentos, construiu uma filmadora capaz de se movimentar pela locação. Com isso, cria-se o travelling a partir do momento em que a câmera pode se locomover junto com seu diretor. Trata-se do protótipo inicial do que hoje conhecemos como uma “dolly”.

Essas ideias de inovação estavam sendo testadas pela Escola Brighton de cineastas no final do século XIX, mas permeou até outros lugares da Europa, especialmente a França, onde surgem alguns nomes de extrema importância para a continuação desse desenvolvimento.

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Alice Guy-Blaché, pouco reconhecida por ser mulher e estar em minoria em uma indústria que era – e até hoje é – dominada por homens, foi uma das mais importantes cineastas para a criação e desenvoltura das técnicas sonoras em combinação com o visual do filme. Guy-Blaché não apenas testou a sonoridade, como também pintava alguns dos próprios filmes à mão, além de ter construído o Solax, que foi um dos primeiros estúdios cinematográficos da história. Foi uma diretora de filmografia recheada com mais de setecentos curtas, inclusive narrativos como suspenses e dramas bíblicos.

Interessado nos trabalhos dos irmãos Lumière, George Méliès abandona o teatro de ilusionismo para começar uma carreira cinematográfica que viria a se tornar consagrada. Com um defeito de câmera, Méliès descobriu durante a gravação de um de seus filmes o que seria chamado de trucagem, que era dado através de fotomontagens. Assim, foi descoberta a possibilidade de criar montagens através das noções de takes.

Começou, então, a dirigir curtas que apresentavam o “erro” como um acerto e a especializar-se nesses primeiros modelos de edição. Dirigiu e produziu um dos mais famosos curtas da história do cinema, Viagem à Lua (1902), o qual foi colorido e orquestrado recentemente.

Apesar de Méliès ter ficado conhecido como o pai do cinema narrativo, Guy-Blaché comandava um estúdio muito antes dele se tornar peça fundamental para o cinema. Ambos trouxeram enormes contribuições, que se disseminaram por toda Europa e América do Norte e, em seguida, para todo o mundo.

Enoch Rector foi um dos mais esquecidos cineastas da época, apesar de sua relevância para o cinema comercial e a proposta do cinema como algo lucrativo inserido dentro da própria narrativa, uma espécie de metalinguagem.

Em seu filme Veja a Grande Luta de Corbett (1897), Rector exibe um dos primeiros filmes a serem filmados em widescreen (1cm x 1,33cm). A película possuía uma milimetragem de 65mm. Esse é o primeiro registro de mudança de formato na tela: até então, todos os filmes conhecidos eram exibidos em 35mm.

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Com a descoberta de todas essas novas possibilidades, que, na época, eram consideradas inovadoras e geniosas por nunca terem sido vistas antes, o cinema foi se ampliando tecnicamente cada vez mais, estendendo sua possibilidade para a narrativa, isto é, a necessidade de contar histórias. A partir do momento em que você pode prolongar uma película em diversos planos e takes, cortá-los e montá-los com uma cronologia pensada, você tem a atuação direta da técnica dentro do desenvolvimento das histórias.

Assim, discutiremos na próxima semana a ascensão do cinema narrativo, apesar desse ainda ter começado dentro do cinema mudo, e as modificações duradouras que o roteiro trouxe para a maleabilidade do cinema com seu espectador.

Referências Bibliográficas:
COUSINS, Mark. História do Cinema. Edimburgo, 2004.

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