Tendo seu nome como título original, Marie Francine encanta através de seu charme singular até o mais rabugento dos espectadores de cinema.
First things first! É preciso, antes de qualquer coisa, comentar essa mudança de título completamente desnecessária e arbitrária. Embora estejamos diante de uma história sobre adultos tratados como jovens, o título novo não faz o menor sentido, principalmente por não ter uma menção sequer à fase dos “trinta anos”.
Na realidade, Francine (Valérie Lemercier) chega a queixar-se aos pais, utilizando-se de outra idade, muito mais nova: “Vocês me tratam como se eu tivesse 14 anos”; “Parem de me tratar feito uma adolescente”. Esses diálogos são extremamente importantes a serem observados antes de uma mudança de título para o Brasil, pois uma falha como esta pode por à prova todo o conceito estabelecido pela pré-produção de um filme.
E muito sinceramente: Francine merece o título em seu nome em qualquer país que seja distribuído a película. Não simplesmente por protagonizar o filme, mas por tanta sutileza e carisma sem qualquer esforço para tal. É fácil sentir-se solidário à Francine, ao seu fracasso e sucesso no amor e no trabalho. Ela não nos traz tristeza ou melancolia. Ao contrário, o sentimento que vem é compaixão; uma torcida que dura 1h35min, à espera daqueles felizes para sempre no final, que toda comédia francesa costuma nos proporcionar.
As cores lembram um pouco o Pequeno Nicolau (2009), tendo diversas vezes o vermelho-branco-azul no cenário e, principalmente, no figurino, mesmo representado por um detalhe ou dois. Talvez um tributo patriota à bandeira da França, ou talvez uma simples coincidência. Mas o interessante é que essa coincidência não se restringe às cores, mas também à direção de fotografia e, portanto, à escolha dos planos de filmagem. Tendo o conhecimento de que Lemercier participou de ambos os filmes e dirigiu Marie Francine, é bem provável que a escolha estética tenha tomado como referência O Pequeno Nicolau.
O andamento de Marie Francine é tão sutil quanto à personagem, dosado de maneira assertiva através do humor moderado e o drama quase discreto. O filme traz leveza a temas não muito agradáveis, como a pressão universal em qualquer sociedade para que os cinquentões estejam eternamente no patamar de bem-sucedidos, casados e felizes, através de situações trágico-cômicas que todo adulto que mora um tempo com os pais certamente já vivenciou.
A história de Francine desperta identificação imediata, mesmo àqueles que não tenham experimentado nada parecido; mas é possível lembrar-se daquele vizinho, ou daquela prima distante, ou daquele amigo que comentou algo parecido. É o tipo de história para rir de si mesmo, e extrair a parte boa de todo o contexto, como um pretendente desconhecido no restaurante ao lado, clientes divertidos ou mesmo a família que, apesar de problemática, ainda é sua, e apesar de tudo lhe quer bem.
Francine pode parecer, a princípio, um pouco sem-noção. E podemos ter certeza disso quando a vemos fumar um cigarro atrás do outro – cigarros comuns – atrás do balcão de sua própria loja de cigarros eletrônicos, na maior descaração. Mas é esse tipo de pessoa que ela é. Uma pessoa extremamente autêntica, e que faz o que nós, espectadores, não temos coragem de fazer.
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Abaixo, o trailer do filme: