Um terror psicológico que possuí todos os elementos para tornar-se uma excelente obra prima em todos os aspectos, mas a falta de lógica do final conseguiu destruir todo este conceito.
O Amante Duplo é um terror psicológico francês dirigido por Francois Ozon, responsável pela direção de Franz (2017). A obra de Ozon conta com elementos psicanalíticos para ajudar na complexidade da obra, um fato que deu todo um charme na obscuridade temática em questão.
Chloé (Marina Vacht) sofre de dores constantes no ventre; no entanto, nenhuma resposta fisiológica pode ser dada a este problema. Essa temática inicial da produção francesa tem uma ligação explícita com a primeira postulação freudiana, a Histeria. No momento em que as bases psicanalíticas estavam se formando, no início do século XX, as pacientes observadas e atendidas por Freud eram apresentadas como histéricas, e o principal comportamento percebido nessas moças era a questão de apresentarem sintomas que não conseguiam ser explicados pela medicina, ou seja, a falta de uma resposta biológica. Pegando esta postulação e jogando-a dentro da temática cinematográfica de O Amante Duplo, consegue-se entender que, até grande parte da obra, um dos focos secundários é a exibição de um caso de histeria na sociedade pós-moderna.
A personagem de Vacht é complexa, intensa e beirando a uma loucura psicanalítica, uma questão que ajuda a puxar todos os holofotes do filme para ela. A interpretação da atriz é um espetáculo de expressões, o que torna praticamente impossível não se comover e chegar ao ápice do prazer junto a ela.
Se Marina Vacht é a ponte da apreensão e da loucura, Jérémie Renier é a ponte da sexualidade explorada e da timidez irritante, uma questão que ajuda totalmente nos aspectos freudianos explorados na caracterização dos gêmeos.
Louis Delord (Jérémie Renier) poderia ser livremente associado ao principal conceito de Sigmund Freud, o id. Para Louis, não há limites para o prazer, nem há prazeres certos e errados; só existe aquilo que ele quer. Somente o princípio da sua satisfação é valido, e não interessa como ele vai obtê-lo. E é exatamente assim que id se configura na teoria psicanalítica: não existe o certo e o errado, apenas o instinto do prazer.
Agora, se Delord é instintivo, o seu irmão gêmeo, Paul Meyer, comporta-se como o superego. Na psicanálise, esse comportamento é percebido como o herdeiro do Complexo de Édipo; ou seja, é aquilo que vem logo após a triangulação formada na terceira fase de desenvolvimento psicossexual, a Fase Fálica. O superego, diferente do id, não é instintivo: ele é punidor. Há sempre limites para o prazer, o que significa que há limites que o prazer da sexualidade – sexualidade, para Freud, não tem haver apenas com sexo, mas com o corpo de forma geral – nunca deve ultrapassar. Mesmo que o caráter punidor de Paul não seja extremamente forte, a personificação, explorada na personagem, da necessidade de sempre se manter dentro do que é dito como certo e nunca ultrapassar esse conceito transforma Meyer na exemplificação humana do que é conhecido como superego.
[Alerta de Spoiler]
Entre os irmãos, está presente o elo que os junta mesmo que eles não saibam: Chloé. A jovem poderia ser analisada como o ego da relação triangular. O ego possuí várias funções no funcionamento psíquico do sujeito e uma delas é a de mediador entre o id e o superego.
Chloé fica tão presa aos irmãos exatamente por existirem características nos dois que a agradam. O ato instintivo de Louis e, por outro lado, a constante necessidade de seguir as normas sociais, ajudam na indecisão da jovem, um fator que a faz mediar entre os dois, aliviando, assim, a sua pressão de escolha em grande parte da obra, mesmo que ao final ela fique com Paul.
Mesmo que o final seja duvidoso e mal desenvolvido, ao ponto de gerar perguntas que deveriam ter sido solucionadas, a direção é o maior charme da obra em questão. Ozon comanda todo o processo de uma forma que gera apreensão e uma necessidade de continuar assistindo. Porém, o seu maior pecado foi nos momentos finais, onde tudo ficou confuso e estranho. E a pergunta que fica ao final é: será que o triângulo amoroso foi fruto da cabeça da jovem francesa?
Por conta desta falha crucial, O Amante Duplo torna-se um terror psicológico que tinha de tudo para dar certo, mas o pecado de uma pergunta sem resposta estraga todo o conceito fantástico formado na produção francesa.
Para mais informações sobre o Festival Varilux 2018, acesse o site oficial.
Abaixo, o trailer do filme: