O Transtorno de Personalidade Antissocial faz parte de um quadro amplo de Transtornos, e a sétima arte retrata apenas uma parte do que ele realmente é.
Os Transtornos de Personalidade não são vistos exatamente como doenças, mas sim como anomalias do desenvolvimento psíquico do sujeito. Eles estão relacionados com a desarmonia na afetividade e uma integração defeituosa dos impulsos, das atitudes e das condutas. Dentro do quadro dos Transtornos de Personalidade, está presente um dos principais e mais cruéis, o Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS).
O TPAS é o que antes era conhecido como sociopatia. Hoje em dia, esse termo não é mais utilizado e em sua substituição ficou o termo antissocial. O DSM – IV, o manual de transtornos mentais, caracteriza o supracitado como indiferença e insensibilidade pelos sentimentos alheios; irresponsabilidade e desrespeito por normas, regras e obrigações sociais; incapacidade de manter relacionamentos, embora não tenha dificuldade em estabelecê-los; baixa tolerância a frustrações, externalizando violência (comportamentos agressivos e violentos); falta de culpa ou remorso; e frequentes atos cruéis e sádicos.
O sociopata mente, manipula, faz jogo psicológico. Apesar de uma grande parte da população perceber o sociopata como um psicopata, os termos diferem e nem são correlacionados. A sociopatia é visivelmente impulsiva e os indivíduos classificados neste quadro são percebidos como tais; já a psicopatia não levanta suspeita, pois os sujeitos se “adequam” aos comportamentos socialmente aceitos. Uma outra diferença seria o vetor do comportamento antissocial ser classificado como Transtorno de Personalidade e o outro não – até hoje, os estudos relacionados à psicopatia batem na tecla da genética ser sua causa principal.
É necessário entender que, para classificar um indivíduo como antissocial, é preciso que este tenha mais de 18 anos. Porém, durante a adolescência, deverá apresentar comportamentos semelhantes aos apresentados no DSM – IV sobre o Transtorno de Conduta.
Além disso, é mais importante ainda perceber que nem sempre o comportamento antissocial é sinônimo de assassinato. Ser psicopata ou sociopata não está relacionado a ser um serial killer. Sim, todo serial killer apresenta comportamentos antissocias; mas nem todo antissocial apresenta desejos assassinos.
Este seria o principal “x da questão” sobre como o Transtorno de Personalidade Antissocial é retratado no cinema. As produções cinematográficas sempre reforçam o estereótipo dos dois tipos andarem invariavelmente juntos; e, ainda que as produções sejam fiéis ao assunto, há sempre aquela pontinha de esperança de que elas parem de retratar a questão de que todo antissocial é serial killer.
Percebe-se que em toda produção que tem sociopatas ou psicopatas como temática principal, a abordagem é a mesma; assassinatos cruéis e terror psicológico ligado a cenas de sangue e comportamentos violentos extremos. Dois grandes longa-metragens que exemplificam esse fator seriam O Silêncio dos Inocentes (1990) e Seven – Os Sete Crimes Capitais (1995).
Na primeira produção, por exemplo, temos Hannibal (Anthony Hopkins), que, além de ter o comportamento assassino, também apresenta atos canibais. Não que a apresentação do perfil psicológico de um dos maiores sociopatas da história do cinema esteja errada ou fora da realidade, por que não está; no entanto, a obra sempre bate na tecla dos assassinatos e nos comportamentos de comer a carne de suas vítimas e praticamente esquece de dar um foco nos comportamentos manipulativos, nos atos de jogo psicológico.
Na segunda produção, a abordagem é praticamente a mesma, mesmo que as narrativas sejam diferentes. Na obra de 1995, há um acréscimo do jogo psicológico que o killer faz com os personagens de Brad Pitt e Morgan Freeman. Porém, esse é o máximo que a narrativa consegue chegar na apresentação de um perfil do antissocial que não esteja ligado apenas a assassinatos macabros.
Sempre deixando claro que os aspectos cinematográficos destas produções são incríveis; o único pecado da sétima arte são os atos de correlação entre os dois termos, um fator que comprova a falta de comprometimento do pessoal de pesquisa em relação à temática de modo geral.
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