Crítica | Praça Paris

O drama brasileiro aborda uma realidade crua sobre estupro e violência policial dentro das favelas do Rio de Janeiro.

Glória (Grace Passô) é uma mulher negra que vive uma vida desgastada; Seu pai a abusava sexualmente desde a infância e seu irmão, preso, a quem faz visitas constantes, aterroriza sua vida mesmo detrás das grades.

Buscando reparar os traumas, ela busca por ajuda em uma estudante portuguesa de psicologia, Camila (Joana de Verona). Com o decorrer das sessões, a psicóloga começa a beirar a loucura ao adquirir paranóia constante devido aos relatos de Glória.

A película em questão é extremamente dicotômica. De um lado, temos a visão geral da violência através dos olhos de uma mulher negra. Além de abuso sexual e das ameaças constantes do irmão, a protagonista é agredida por policiais e vivencia um cotidiano cercado de marginalização e dor.

Em contrapartida, temos em Camila uma visão apavorada. A partir do momento em que a desconfiança começa a surgir, é possível notar a racionalidade tornar-se loucura. A visão de Camila é a típica descrição do olhar branco sobre as periferias – ao mesmo tempo em que seus temores são compreensíveis, alguns momentos tornam-se extrapolados.

A direção faz com que a câmera respire junto com as personagens, traçando um marco brasileiro característico. Além disso, há o constante uso da visceralidade como uma forma de chamar a atenção de seu telespectador.

Grace Passô é estonteante ao performar a dor tímida de Glória. A força feminina está presente a todo momento como uma luta cotidiana em suas cenas.

A película se perde na repetição de muitos elementos visuais. Alcança-se um momento em que isso se torna entediante e previsível, pois ainda que sejam pequenos objetos cinematográficos, fica claro para o espectador o que irá acontecer em cena.

A jogada entre começo e fim é muito bem perpetuada durante o tempo de duração, mas deixa em aberto um debate curioso sobre a personagem de Camila e o destino de Glória.

Dessa forma, Praça Paris é um filme que possui falhas sistemáticas de roteiro, mas encontra sua força em uma boa ambientação, personagens e, certamente, faz parte de um “cinema de levante” nacional.

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