Todas As Razões Para Esquecer é um filme bom. O problema é que o protagonista deveria estar em outra história.
Johnny Massaro vem se destacando desde o sucesso de O Filme da Minha Vida (2017), e com seu atual papel de co-protagonista na novela Deus Salve o Rei (2018). É indiscutível o fato de que os personagens de Massaro conseguem ser tão reais e diferentes entre si, sem, contudo, precisar de uma grande mudança estética. São as expressões, os trejeitos… a atuação, de fato.
No entanto, nada disso basta para que Antônio – o protagonista – consiga cativar o espectador. Não porque ele seja ruim, mas o contrário. Antônio parece pular de paraquedas; parece ter saído de um filme de drama europeu e caído num sabe-se-lá que gênero, meio indefinido, e, acima de tudo, tedioso. O personagem simplesmente não se encaixa no roteiro, não tem química. Parece que falta algo. Veracidade, talvez. Antônio não convence. Não parece morar dentro do mesmo contexto em que foi inserido.
Ao mesmo tempo, precisamos entender Todas As Razões Para Esquecer como uma história contada pelo próprio protagonista, que se diz escritor. E sendo sua obra um livro de memórias, já é de se esperar que as informações estejam completamente bagunçadas. Este é um ponto positivo do filme: memórias não têm linha cronológica, é tudo um emaranhado de cenas atropeladas umas pelas outras. Nesses momentos, o diretor, Pedro Coutinho, optou por desfocar as lembranças, para deixar claro que se tratavam de flashbacks.
E, embora as atitudes infantis de Antônio causem irritação, é bem provável que todas as cenas tenham sido pensadas para este fim. Todas As Razões Para Esquecer traz para o cinema uma denúncia à banalização dos medicamentos de tarja-preta, e, principalmente, à banalização dos transtornos psico-emocionais. É mostrada uma relação de transparência entre paciente e terapeuta, que receita medicamento como se receitasse chá de camomila. Há um momento, por sinal, em que a terapeuta pergunta a Antônio: “Como se sente depois dos remédios?” e ele responde “Não sinto nada”. A dor passa, mas a alegria não vem.
A atmosfera insossa, sem graça e meio monótona existe para transpor em tela o que o protagonista sente; para colocar em pauta a maneira como vive um sujeito em depressão. Diferente do que falsamente compartilhamos, não se trata de tristeza. Mas de uma grande sensação de vazio. Dessa maneira, a paleta de cores escolhida chega a ser tediosa, o excesso de silêncios – mais uma vez lembrando o cinema europeu – é ensurdecedor, e algumas cenas parecem desnecessárias e rotineiras demais. Falta mais sons ambiente, falta trilha sonora, falta vida. Falta exatamente o que Antônio perdeu e não conseguiu recuperar durante o filme.
[ALERTA DE SPOILER]
No entanto, o momento chave de Todas As Razões Para Esquecer talvez seja a cena em que terapeuta vira paciente, e paciente vira terapeuta. A profissional que atendia Antônio em certa situação se deita em seu colo e chora. É quando ela, por fim, revela que algumas das colocações de Antônio lhe afligem, justamente ao perceber que seu paciente reclama de barriga cheia, talvez, e mostrando, assim, o quanto ele superdimensiona situações que poderiam ser muito piores. Como as da própria terapeuta, por exemplo.
A grande verdade é que este não é o filme que foi vendido para nós. Não se trata de uma comédia-romântico-dramática. Está mais para um drama com humor sem graça, transbordando potencial narrativo, mas desenvolvido para um público errado, com as ferramentas erradas. Se Todas As Razões Para Esquecer houvesse mergulhado de cabeça no gênero de filme “dramalhão”, sem medo de arriscar, Antônio (e, por consequência, Massaro) teriam tido o destaque merecido; eles teriam, na verdade, a história merecida.