Crítica | Everything Sucks

Everything Sucks é como abrir uma capsula do tempo cheia de lembranças de colégio da geração Y, trazendo nostalgia, overdoses de fofura e muitas risadas.

É muito divertido perceber a metalinguagem em Everything Sucks, que tem como pano de fundo justamente a era da fita cassete, e nós aqui, assistindo a tudo isso pelo streaming da Netflix, num smartphone, ou numa smart-TV. Os adolescentes dos anos 90 não seriam capazes de imaginar que chegaríamos a tanto.

Internet discada, os clubes geeks, os trajes, e, acima de tudo, a influência musical, presente numa trilha sonora essencialmente “anos 90”, todos esses elementos foram orquestrados para nossa imersão numa espécie de capsula do tempo, levando-nos de volta à escola, para então sermos apresentados a uma trama simples, do cotidiano, mas envolvente o bastante para fazer qualquer um deixar de ir ao banheiro, ou sequer respirar, antes de devorar os dez únicos episódios da temporada.

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A verdade é que desde Stranger Things (2016), e o sucesso inesperado de Freaks and Geeks (1999) no catálogo teen, a Netflix entendeu qual a faixa etária de seus usuários mais frequentes. E mais do que isso: o perfil de gosto desse público. Os mais novos, por curiosidade e vontade de ter vivido os anos 80-90, e os mais velhos, por terem vivenciado de fato esses anos.

A escolha de planos e movimentação de câmera lembra as filmagens em fita cassete. O zoom automático, cortes secos, e até mesmo problemas envolvendo Chroma Key¹ foram mostrados na série, misturando ficção e realidade, no que diz respeito a abordagens cinematográficas. Em outras palavras, é como se a direção de fotografia de Everything Sucks se misturasse à história, incorporando o estilo da época em seus próprios quadros.

[SPOILER]

Tirando a presença óbvia de personagens arquetípicos, vistos antes nas séries já mencionadas – Oliver, que é claramente o Steve, de Stranger Things; e o grupo de geeks do clube de vídeo, como em Freaks and Geeks -, temos uma abordagem nova! Fugindo um pouco do clichê, Everything Sucks traz as descobertas de gênero, voltada muito mais para o amor do que para o sexo em si.

Temos a personagem de Kate em conflito; como se, a todo custo,  ela tentasse obrigar-se a gostar romanticamente de Luke, por ele ser tão amoroso, cavalheiro e por tratá-la como a pessoa mais importante do mundo. No entanto, como Luke irá perceber ao longo dos episódios, a vida sempre tem múltiplas perspectivas. Enquanto ele pensava ser o herói de Kate, na realidade, ela o enxergava quase como um vilão.

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Um fato interessante é a escolha da cidade de Boring, em Oregon, como pano de fundo. Logo uma cidade que, traduzida para o Português, chama-se “Tédio”. Talvez, muito provavelmente, seja porque a adolescência é uma fase em que tudo é “entediável”, tudo termina tornando-se rotineiro demais; isso pode ser evidenciado na cena em que Oliver diz que se o clube de teatro for mesmo suspenso, não há mais nada que o prenda à cidade. E não somente ele, mas vários personagens insistem em comentar e reforçar que Boring é, de fato, uma cidade tediosa.

Mas não é exatamente o enredo ou o roteiro de Everything Sucks que chama a atenção. O que realmente encanta aqui é a simplicidade, a maneira como os autores mostram que, embora estejamos falando de uma série que se passa vinte anos atrás, não deixa de ser uma série atemporal; a tecnologia pode ser diferente, as modas e modismos também. No entanto, as histórias são as mesmas. A adolescência, os conflitos, os autos e baixos são os mesmos. Everything Sucks traz identificação e nostalgia até mesmo para os calouros de 2018.

¹Chroma Key é um tecido utilizado no Cinema para efeitos especiais. Conhecido também como “Tela Verde”, por ser a cor mais comum.

 

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