Crítica | Pantera Negra

O super-herói de Wakanda revolucionou o formato de filmes da Marvel.

Pantera Negra foi um filme muito esperado, por trazer um universo completamente novo ao já estabelecido Universo Marvel, tanto em questões de representatividade quanto em temáticas recorrentes como tecnologia, dever e cultura.

Somos apresentados a Wakanda, um país africano de “terceiro mundo” que, na realidade, possui a única reserva de vibranium1 do planeta e por isso tem técnicas e conhecimento dos quais o mundo sequer desconfia. Depois da morte do Rei T’Chaka (John Kani), no atentado à conferência da ONU que é mostrado em Capitão América: Guerra Civil (2016), seu filho T’Challa (Chadwick Boseman) herdará a coroa e, com ela, as consequências do reinado de seu pai.

O elenco funciona muito bem em conjunto, com poucas exceções. As personalidades aqui são notáveis e merecem ser citadas individualmente, visto que a estrutura narrativa de Ryan Coogler se apoia na construção de suas personagens de forma brilhante.

T’Challa é um homem bom em busca da conciliação dos seus valores com o seu dever, nos mostrando diversas facetas que ajudam a torná-lo mais palpável. Boseman escorrega em alguns momentos, mas quando a cena precisa da sua intensidade, ele consegue manter um ritmo plausível; ele procede com a cautela de um novo Rei e com a dor de um filho que acaba de perder o pai que amava. Sua relação com Nakia (Lupita Nyong’o) não é forçada ao espectador com as usuais sequências para-se-apaixonar, pois o roteiro traz uma história prévia entre os dois que não é central, o que não a torna cansativa nem distrai do objetivo principal do filme.

Essa é uma área na qual o filme merece ser destacado: as personagens femininas não são definidas pela sua relação com as personagens masculinas. Numa indústria predominantemente machista, essa produção constrói seu enredo indissociável das ações das mulheres de Wakanda, o que dá uma sensação gratificante de realismo ao roteiro de Ryan Coogler e Joe Robert Cole.

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Nyong’o é uma mulher independente, inteligente e solidária, que sabe exatamente o que quer alcançar e que é capaz de mover a trama, quando necessário. A General Okoye (Danai Gurira) é outra figura indispensável; como uma guerreira notável, ela protagoniza cenas desde luta até o cômico, além de transmitir o conflito entre a lealdade a T’Challa e ao seu país.

A Princesa Shuri (Letitia Wright) é o prodígio da família e sustenta a fraternalidade do relacionamento com o irmão, cheio de elementos que nos remetem às nossas próprias famílias. Wright consegue captar a simpatia do público com facilidade, nos atirando sacadas que a tornam um alívio cômico eficiente.

O arco que menos funciona é o de W’Kabi (Daniel Kaluuya), o que será uma decepção para quem assistiu a Corra! (2017) e esperava ver mais do ator. Ele é utilizado como um acessório para justificar alguns elementos de roteiro, quando necessário, o que impede seu desenvolvimento e tira o peso das suas ações. Everret K. Ross (Martin Freeman) é o elemento americano do roteiro, mas é pouco relevante e não entrega nada de novo, o que não faz falta para o todo.

Michael B. Jordan trabalha com a escolha do roteiro de manter o antagonista Erik Killmonger como um mistério durante uma boa parte do filme. Já existe a noção de que ele será importante, mas sua composição demora a ser feita e, apesar de funcionar, poderia ser mais marcante. Dito isso, sua história é significativa e funciona para mantê-lo como um dos vilões mais memoráveis da MarvelJordan leva uma ira incontrolável à tela do cinema, ao mesmo tempo em que passa a vulnerabilidade de um homem que sente pela injustiça a que a população negra está sujeita.

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O principal aspecto do filme é o seu teor político. Pantera Negra nos impõe representatividade, com o elenco majoritariamente negro e a direção de Ryan Coogler, além do supracitado empoderamento feminino; e nós adoramos isso.

A trilha sonora composta por Kendrick Lamar é um elemento importante na quebra da sujeição aos padrões da indústria ocidental branca; Black Panther: The Album é fantástica, surpreendente e feita sob medida para a produção. Outra escolha impressionante é a modelagem do sotaque em todas as personagens wakandianas, se afastando do inglês eurocentrado e, dessa forma, dando identidade ao filme.

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Dialetos, rituais, danças, pinturas corporais; a presença da cultura impressiona, embebida na cinematografia que contrasta o tribal com o tecnológico. A estética é muito bem trabalhada, sempre com o cuidado de trazer uma visão da África sem o filtro do colonizador.

Pantera Negra renovou a abordagem de filmes de super-herói de forma habilidosa, criando sua importância no meio e cativando o público que esperava ansiosamente pelo lançamento do longa. O filme estreia hoje (15/02) em todo o Brasil.

 

1Metal inventado pela Marvel; é o mais resistente que existe e esteve presente em outros filmes, como, por exemplo, no escudo do Capitão América e no braço de Bucky Barnes.

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