Uma empolgante obra política sobre a dinâmica entre Marx e Engels, a Revolução Proletária e a criação do Manifesto Comunista.
É importante ressaltar que um filme como este precisa ser cuidadosamente escrito. Temos em O Jovem Karl Marx mais do que uma biografia; o que nos é de fato servido é um relato histórico que, acima de tudo, engloba a luta da classe trabalhadora para ter os seus direitos reconhecidos.
Após ser exilado, Marx (August Diehl) e sua esposa, Jenny (Vicky Krieps), vão para Paris, onde conhecem Friederich Engels (Stefan Konarske), filho de burguês que se mostra inconformado com a situação da classe operária. Juntos, Engels e Marx formam um vínculo poderoso que revoluciona a visão política e social ao redor do mundo.
É difícil dizer que o filme não escolhe um lado para sustentar. Porém, é necessário reconhecer que, ao retratar a obra política de um dos autores mais famosos de todos os tempos, focar a atenção para o tema que esse trabalha é inevitável. Sendo assim, a estória propõe uma abordagem satisfatória e envolvente para o seu público – não apenas segura o telespectador que já é previamente envolvido com a obra de Marx, mas também apresenta a criação para os que não tiveram a oportunidade de estudá-la.
O roteiro divide seus estudiosos em duas caricaturas. A primeira é de nosso protagonista, Karl Marx, um homem desempregado e exilado que luta pelo reconhecimento de suas pesquisas sociais; esse nos é apresentado com uma personalidade forte e intelectual, se mostrando destemido a todo momento, mesmo sabendo dos riscos devido à ameaça que sua obra pode representar ao governo. Por outro lado, temos Friederich Engels. A reação primária do espectador é a desconfiança, que os próprios operários sentem em relação ao mesmo. Engels vem de uma família de prestígio e, por esse motivo, sua lealdade à causa é constantemente questionada.
Essa diferenciação acurada é a maneira que o filme encontra de explicar ao público como os dois autores se complementam. A interação entre os estudiosos é extremamente crível, o que torna a realidade ainda mais palpável para o público. A maneira como Diehl e Konarske conduzem suas personagens é o que torna a luta central tão intensa e instigante.
O longa começa com um ritmo calmo, que é cortado logo nos primeiros minutos; vemos alguns camponeses colhendo dentro de uma floresta e, pouco depois, sendo atacados por homens bem-vestidos que chegam a cavalo. A crítica está presente desde a primeira cena: o narrador explica que dentro da economia vivida, as pessoas não conseguem diferenciar roubo de colheita, mostrando que os bens naturais que garantem a sobrevivência tornaram-se propriedade do Estado.
Temos aqui uma exploração constante da causa e efeito. A ressalva de que os proletários são obrigados a vender a força de trabalho para sobreviver e a possível transitoriedade das relações. A película separa as classes em duas categorias: homens forjados pelo trabalho e homens que lucram com o trabalho daqueles. Além disso, ainda é discutida a contínua presença do serviço infantil.
A filiação de Engels à Liga dos Justos como representante de Bruxelas é o ponto de partida para a fundação da Liga dos Comunistas, atenuada pela famosa frase “trabalhadores de todo o mundo, unam-se”. Engels intensifica a ideia de uma revolução violenta, esclarecendo que a burguesia não será conquistada com gentileza.
Como adicional, o filme aborda a presença das esposas como um fator importante para a construção dos estudos. Jenny contribui com a formação intelectual da linha de pensamento de Marx, mesmo quando esse é proibido de exercer atividades políticas, enquanto Mary (Hannah Steele) se apresenta como revolucionária ativa na luta proletária. A ideia de destacar a força das personagens femininas que foram borradas ao longo da história é, definitivamente, um crédito que deve-se salientar.
O Jovem Karl Marx é, acima de tudo, um filme político e social, com uma abordagem fiel ao autor homenageado e que exerce muito bem o seu objetivo em questões históricas.