Maratona OSCAR | Três Anúncios Para Um Crime

A obra dirigida e escrita por Martin McDonagh é um tesouro crítico em uma indústria onde o preconceito e abuso ainda predominam.

Temos em Três Anúncios Para Um Crime a representação simbólica e física de uma dor irreparável e a ira constante com a hierarquia social de poder. O filme se desenvolve a partir da história de Mildred Hayes (Frances McDormand), uma mãe abalada pelo assassinato de sua filha, Angela (Kathryn Newton), que foi queimada viva e estuprada enquanto morria. Após um ano do ocorrido, as investigações ainda estão em aberto e não há, sequer, um suspeito para o crime. Com isso, Mildred decide alugar três outdoors em uma estrada que leva à cidade para expor a falta de preocupação das autoridades diante desse crime atroz.

Dito isso, as críticas à sociedade não se restringem apenas à problemática do abuso sexual. O descaso dos detetives com o brutal assassinato não é um mero descuidado; é quase proposital pela falta de esforço. A primeira vertente puxada a partir dessas ações é a violência policial contra pessoas de cor, que é um alarme constantemente acionado durante todo o tempo, inclusive, em uma das falas de sua protagonista – “A polícia parece estar ocupada demais torturando negros inocentes para resolver um crime de verdade”.

A persona interpretada por Frances McDormand é fulminantemente legítima. Há uma única cena em que conhecemos a mulher antes da morte de sua filha. É preciso apenas de um micro flashback para estabelecer a total mudança de sua personagem; somos inicialmente apresentados a Mildred como uma mulher forte, independente e com um passado melancólico. Após alguns minutos que estabelecem a mutação que a perda provoca em sua vida, percebemos que, antes, Mildred era uma mãe desgastada pelo casamento abusivo, no qual era constantemente espancada pelo marido na frente dos filhos e tinha dificuldades em lidar com Angela.

Sem título

Ainda enaltecendo a divina performance que marcará para sempre a carreira de McDormand, é necessário acrescentar a forma como a atriz consegue trazer a humanidade e sensibilidade de sua personagem mesmo nos momentos de razão e rigidez. Mildred Hayes não é apenas uma mãe em busca de justiça, ela é uma mulher inconformada com a hierarquia de poder que parece rondar a sua cidade de maneira tão explícita e, aparentemente, ignorada. Ela é resistente, ambiciosa e, a todo momento, mantém sua causa e reforça sua luta.

Entre sete indicações ao OSCAR, duas estão na mesma categoria. Os atores Woody Harrelson, como Xerife Bill Willoughby, e Sam Rockwell, como Oficial Jason Dixon, concorrem a “Melhor Ator Coadjuvante”.

three-billboards-outside-ebbing-missouri-sam-rockwell-woody-harrelson

É importante destacar a indicação de Rockwell, que possui o melhor desenvolvimento de personagem não apenas pelo roteiro, mas pela magnificência de seu trabalho. A divisão de facetas é escancarada de uma maneira devida e precisa. Durante o primeiro ato, Dixon é um homem repugnante, racista e homofóbico. O comportamento violento dele é reforçado por comentários dos outros personagens durante toda a linha de desenvolvimento, fazendo com que o público sinta certa ojeriza à sua figura.

O segundo ato é fechado com uma tragédia que estabelece a mudança de Dixon e dá espaço para sua redenção, que é emocionalmente venusta e crível. O telespectador passa a simpatizar com o personagem de tal maneira que torna impossível não acreditar na real mudança de caráter.

Three-Billboards-Outside-Ebbing-Missouri-1

O roteiro é assinado pelo diretor, Martin McDonagh, que se mostra audacioso e extremamente crítico durante todo o tempo. Apesar de ser um homem branco, McDonagh estabelece em seu filme o reconhecimento de seus privilégios e da posição em que se encontra. Em momento algum ele vitimiza abusadores, sempre visibilizando o lado da vítima e expondo a violência estruturada.

Além disso, a linha estabelecida é sempre surpreendente, mesclando com o excelente trabalho de direção. O filme não se torna monótono, criando paranoias em seu público junto com os medos de suas personagens; ele nos transpassa probabilidades que trazem desconforto e até mesmo um certo desespero, mas que são apenas especuladas para simular um perigo social eminente difundido com reviravoltas inesperadas.

THREE BILLBOARDS OUTSIDE OF EBBING, MISSOURI

O filme ainda é finalizado com uma abertura geniosa, que abre espaço para a interpretação do telespectador de acordo com suas próprias convicções, acrescendo ao senso de licitude da história e a definição do fazer justiça.

Com sete indicações, Três Anúncios Para Um Crime é um protesto cinematográfico, composto por um forte elenco que tem como base um excelente trabalho roteirístico e uma audaciosa direção que desafia a premiação e contraria os estereótipos de gênero, cor e sexualidade, sendo um dos mais fortes concorrentes ao OSCAR 2018.

Indicações:

  • Melhor Filme;
  • Melhor Atriz;
  • Melhor Ator Coadjuvante;
  • Melhor Trilha Sonora Original;
  • Melhor Roteiro Original;
  • Melhor Montagem.

2 comentários em “Maratona OSCAR | Três Anúncios Para Um Crime

Deixe um comentário

Faça o login usando um destes métodos para comentar:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s