Maratona OSCAR | O Insulto

Libano, 2017. O que uma simples discussão por um cano d’água pode se transformar quando levada ao conflito sobre a questão de refugiados e palestinos?

O conflito do filme se passa entre um palestino e um refugiado engenheiro, que resolve consertar o cano ilegal do primeiro; ao ver o cano consertado, resolve quebrá-lo novamente.

Toni, que se mostra matuto e ignorante em diversos quesitos, deixa claro que as convicções dele são maiores do que muitos valores em alguns momentos. Ele é um adulto de 46 anos que, ainda assim, não vivenciou a maioria das guerras pelas quais muitos passaram e se encontra com uma esposa grávida, que tenta amenizar o conflito a todo custo, mas ele não permite.

A história consegue mostrar as duas perspectivas: de Yasser, o engenheiro que busca manter o silêncio para não gerar um conflito maior e se encontra disposto a pagar por um erro que não cometeu, e o ponto de vista de Toni, palestino que assiste seus direitos infringidos no momento em que Yasser tenta consertar o cano sem o seu consentimento. Ziad Doueiri conseguiu passar, em sua direção, a tamanha tensão e angústia de ambas as personagens. De fato, como telespectador, você tenta ficar por dentro de todas as informações. A exemplo de Toni, que tem como uma de suas maiores falas a idolatria por um comandante do exército que organizou diversos massacres na região de Damour. Ariel Sharon era conhecido como “O Rei de Israel”, comandou o massacre da palestina e foi considerado o maior comandante de campo na história do exército de Israel.

A situação do filme nos traz semelhanças com o cenário crítico brasileiro. Existe uma maneira através da qual os diálogos percorrem, chegando a dois extremos e expondo que, dentre os discursos, não existe busca pelo correto; os debates não saem da sua superfície de argumentação e vemos que dois pensamentos e atitudes chegam ao exagero das ofensas. A não aceitação de palestinos com os refugiados vem de uma história sofrida e cheia de massacres, que blindaram suas mentes de maneira agressiva e fechada, o que jamais justificaria a agressão ao próximo.

Com um roteiro muito bem elaborado, o filme percorre cheio de plot-twists que certamente deixa as sensações parecidas com as que sentimos quando vemos um episódio da primeira temporada de Black Mirror. O Insulto foi feito para criar questionamentos e analisar posicionamentos, mesmo que sejam completamente equivocados.

Um crime de ódio disseminado em uma frase pode sim deixar marcas enormes na memória de um ser humano. É possível enxergar o conteúdo histórico que o filme possui, porém, ao assisti-lo, ficamos abismados em perceber o que uma coisa mal resolvida poderia se tornar. O que era pra ser apenas um cano quebrado se tornou uma luta judicial com exibição em todas as mídias do país, tornando duas pessoas supostamente “desconhecidas” em conhecidas por seus posicionamentos políticos e suas identidades.

A tensão e pressão que o filme nos leva conseguiu fazer com que compreendamos ambos os lados, mesmo não concordando. Não conseguimos compreender a dor por completo de duas pessoas que passaram por isso, duas pessoas que tiveram ambas as vidas levadas por um instinto de sobrevivência. Mas acabamos entendendo, também, que elas já nasceram lutando e tiveram que persistir nessa batalha para se adaptarem aos seus ideais.

É completamente aceitável que O Insulto esteja concorrendo a “Melhor Filme Estrangeiro”, pela maneira com a qual a direção consegue abordar todo o caos que um conflito simples pode causar. Uma vez que o diretor leva ao telespectador imagens verdadeiras do “Setembro Negro”, no ano de 1976, no qual um massacre de quinhentas pessoas, inclusive crianças e idosos, aconteceu. Como a região de Damour ficou devastada após os acontecimentos, tudo isso nos faz sentir incapacidade de concordar com o comportamento das milícias, sejam elas cristãs, ou o comportamento absurdo do exército. O filme traz consigo a demonstração da realidade de um país onde é preciso minuciosamente analisar suas palavras, para que assim possa sobreviver nela de acordo com as leis.

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