Crítica | 120 Batimentos Por Minuto

Robin Campillo vai te tirar da sua zona de conforto e escancarar uma realidade que simplesmente não pode ser esquecida.

120 Batimentos Por Minuto se passa na França, nos anos 1990, época em que o país vivia uma epidemia de AIDS; nesse momento, o grupo de ativismo ACT UP está empenhado em gerar uma resposta eficiente do governo e, em muitos casos, agindo ela mesma para agilizar a liberação de novos medicamentos e para prevenir que mais jovens se contaminem com o vírus.

Dessa forma, o filme logo nos apresenta à estrutura básica da associação, além de dar um breve histórico; essa estratégia é eficiente em situar o espectador o suficiente para que acompanhe o primeiro momento do filme, que é densamente político. Vamos acompanhar alguns dos atos, mas principalmente as reuniões da ACT UP; temos, então, uma noção das divergências quanto à melhor abordagem dentro de um grupo tão heterogêneo, além de compreender melhor quais eram os desafios e as demandas dessa parcela da população.

Nesse primeiro momento, Adèle Haenel está em destaque como Sophie, junto à liderança da associação, Thibault, outra personagem marcante, interpretada por Antoine Reinartz. Os passos cautelosos daqueles que se colocam à frente muitas vezes não correspondem às expectativas dos integrantes da associação, e nesse sentido temos uma energia nervosa que emana de Max (Félix Maritaud) e Sean (Nahuel Pérez Biscayart) desde o começo.

A importância da manifestação pacífica, da visibilidade, da informação e da constante vigilância são pungentes; é impossível não se sentir engajado em algum momento. Existe uma dicotomia em jogo, no momento em que entendemos a importância do reconhecimento da epidemia e ao mesmo tempo vemos a vitalidade desse grupo.

A estrutura narrativa começa a se afunilar; à medida que Nathan (Arnaud Valois) se aproxima de Sean, nós nos aproximamos dos dois. Além disso, alguns diálogos permitem que conheçamos outros membros da ACT UP através deles. Aqui, é notável a influência do quadro de saúde na maneira que as personagens pensam nas ações.

Nathan representa o olhar externo à essa realidade. Ele é o novato, o que pode parecer um clichê do cinema, mas que funciona naturalmente; seu envolvimento é gradual, profundo e significativo. Valois tem uma contribuição tocante através do seu aprendizado e do seu comprometimento.

Mas Biscayart entrega a grande persona. Ela desperta muito além da empatia, ela te faz rir e chorar e se indignar a cada minuto. Sua intensidade é desconcertante, ditando o ritmo do filme; e quando ele próprio se vê num novo caminho, o filme também muda a sua abordagem.

A direção de Robin Campillo optou por um enfoque mais realista, apesar de alguns momentos de metamorfose em tela; assim, principalmente no início da obra, você se depara com a sensação de estar assistindo a um documentário. Isso funciona muito bem e dá ao próprio filme o caráter político que ele tanto aborda.

Campillo criou uma obra que, muito além de ser importante, é envolvente e emocionante.

Deixe um comentário

Faça o login usando um destes métodos para comentar:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s