Num mundo onde se derrama litros de sangue e lágrimas na tela do cinema, não há espaço para quem reflete através de sorrisos.
“São tempos difíceis para os sonhadores”, sábias palavras ditas em Amelie Poulain (2002), mas que se aplicam muito bem hoje, em 2017.
A questão é clara: num contexto de disputas de espaço na mídia, vencem as obras politizadas, que discutem antropologia, sociologia e política. Vencem os dramalhões que derramam litros de lágrimas na tela do cinema, misturando-se ao sangue dos seguidores de Tarantino e Hitchcock; a diferença é que aqui, no Brasil, troca-se os pistoleiros por gangues de rua, os agentes secretos por intervenções nas Comunidades, os psicopáticas por vítimas de uma sociedade injusta que precisa adentrar o mundo dos crimes por não encontrar outra saída.
Alguns podem até se perguntar por onde andam os sonhadores. Os tantos Meliéres mergulhados num país tão grande. Eles existem sim. Eles inscrevem filmes em festivais. No entanto, a pergunta correta seria: “por que eles não estão concorrendo?”. Sejamos realistas… Sonho não vende. Imaginação, sorrisos, fantasia. Nada disso vende. Pelo menos, não aqui, no Brasil.
Nós ouvimos muito por aí que uma obra despolitizada é uma obra que não serve pra nada. Que divertir é mais um hobbie do que profissão. Então, o que vocês me diriam, se eu falasse de Charles Chaplin? Que foi o cineasta mais politizado de todos os tempos, que criticava e informava através dos risos? É bem interessante, não? E se eu falasse que existe um filme que reverencia Chaplin, que o reinventa em nossa realidade, que está passando no Panorama Coisa de Cinema, mas não está concorrendo?
Este é um caso a se pensar.
É claro que Thiago Mendonça talvez nem tenha se inscrito na competição. Não sabemos ao certo, e nunca saberemos. No entanto, ainda podemos refletir muito com essa entrevista que o Cine Festivals fez com o diretor em sua estreia com o filme na Mostra de Tiradentes, em março deste mesmo ano.
Sessão das Três 